
R$ 4 milhões em convênios: Mídia Ninja usa ONGs para receber verba do governo Lula e ganha espaço na Cultura
Por Edmilson Pereira - Em 3 meses atrás 1949
O Mídia Ninja, uma rede de comunicação ligada à esquerda, tem usado ONGs para receber rees do governo federal enquanto afirma publicamente não ser bancado com dinheiro público. Duas entidades diretamente ligadas ao grupo, e cujos representantes têm atuação no Ministério da Cultura, obtiveram R$ 4 milhões em convênios, emendas parlamentares e lei de incentivo durante o atual mandato do presidente Lula (PT).
Liderado pelo ativista Pablo Capilé, o Mídia Ninja apoiou Lula oficialmente à presidência, em 2022. Fez campanha para “virar votos” e, ao anunciar a vitória do petista sobre o então presidente Jair Bolsonaro (PL), escreveu “vencemos” em uma publicação.
Procuradas, as entidades negam ter sido escolhidas por seu vínculo político com o governo e dizem ser apenas parceiras do Mídia Ninja, sem poder falar pelo movimento (leia mais abaixo). As páginas oficiais do movimento Mídia Ninja somam quase 7 milhões de seguidores nas principais redes sociais (4,6 milhões no Instagram, 1,2 milhão no YouTube e 1 milhão no X).
O cientista político e professor do Insper Leandro Consentino avalia que a absorção das militâncias digitais por campanhas é uma tendência na política, mas o pagamento indireto a movimentos precisa ser visto como ponto de atenção.
“Há questionamentos importante, com relação à legitimidade. Primeiro, quanto à natureza desse movimento que diz não receber verbas públicas, mas que recebe colateralmente. Isso é um ponto de atenção importante, de entender a natureza jurídica e os objetivos desse movimento”, pontuou.
Consentino também disse considerar importante que fique clara a relação entre o recebimento de verbas e o apoio a um governo, de esquerda ou direita. “Se o recurso vai para uma ONG que tem como função enaltecer o próprio partido do governo, começa a ter um problema do ponto de vista da competição política e eleitoral”, disse.
No site oficial, o Mídia Ninja afirma não ser bancado por verba pública e critica os “veículos de comunicação corporativos” que “sobrevivem às custas de altos investimentos públicos”. Entretanto, seus cofundadores dirigem organizações não governamentais que recebem dinheiro do governo.
O movimento não tem personalidade jurídica própria, mas financia seus projetos por meio de duas ONGs nos nomes de seus fundadores. Elas já ganharam R$ 1,6 milhão desde 2023. Há, ainda, mais R$ 2,4 milhões previstos por meio de incentivos e convênios assinados ou pré-acordados por elas com o Ministério da Cultura e com o Ministério da Justiça, por meio do Fundo de Defesa de Direitos Difusos.
Os principais projetos financiados com verba pública levam o nome “Ninja” ou têm seções próprias dentro do site oficial do movimento. Em notas enviadas pela mesma assessoria de imprensa, as entidades afirmaram que não falam em nome do Mídia Ninja, mas relataram uma “relação natural de apoio executivo e institucional” porque o movimento é “uma rede de comunicação livre” formada por “diferentes produtores e gestores culturais”.
A principal contemplada é a Associação Coletivo Cultural, com R$ 3,4 milhões. Uma parte da verba, R$ 296 mil, partiu de convênio com a Fundação Nacional de Artes (Funarte), ligada ao MinC. O líder da ONG, Talles Pereira Lopes, e a conselheira fiscal, Karla Kristina Oliveira Martins, são fundadores do Mídia Ninja e fizeram parte de colegiados da Funarte que atuaram na escolha de projetos na época em que a organização deles foi contemplada.
O Mídia Ninja é uma rede formada por ativistas de esquerda e sites alternativos alinhados ao governo Lula que ganhou proeminência em 2013 por sua cobertura das manifestações de junho daquele ano. Na época, eles se apresentavam como independentes de interesses políticos e econômicos, mas depois assumiram abertamente posição favorável às gestões petistas. Oficialmente, afirmam defender “diálogo suprapartidário”.
Karla Martins é coordenadora da Casa Ninja Amazônia, um braço do Mídia Ninja dedicado ao ativismo ambiental. O grupo se organiza em torno de iniciativas chamadas Fora do Eixo e Rede Livre.
Fonte: Agência Estadão
Foto: Instagram/mídianinja