Reflexão: Novo paradigma para o desenvolvimento do Nordeste

Reflexão: Novo paradigma para o desenvolvimento do Nordeste

Por Edmilson Pereira - Em 2 semanas atrás 693

Na semana ada participei em Recife, do Seminário promovido pela FGV (Fundação Getúlio Vargas) denominado “CARTA NORDESTE: REFLEXÕES PARA UMA NOVA POLÍTICA DE DESENVOLVIMENTO PARA REGIÃO”.  Além da capital pernambucana, sediarão esse evento, as cidades de Salvador e Fortaleza, sendo que ao final é cabo, será redigida uma carta onde consideraram todas as premissas ali discutidas, bem como, sucederá uma outra carta, desta feira redigida há mais de 60 anos pelo conterrâneo e economista Celso Furtado, em 1959.

Embora possamos assegurar de grande importância este estudo do economista Paraibano que acabou por criar a SUDENE e todas as ações dela originária, executada nos setores do comércio, agropecuária e, principalmente, da indústria, se constata a permanência das mesmas desigualdades históricas regionais, bem como, o alto grau de dependência do tesouro nacional pelos entes estaduais e municipais, de rees orçamentários, via recursos obrigatórios ou emendas parlamentares e/ou de fundo regional, assim como, de programas de subsídios, de complemento de renda e etc.

O Seminário revelou, inclusive, uma divergência conceitual no tocante a mudança de paradigma para o desenvolvimento da Região Nordeste, pois, se de um lado, a tradição desenvolvimentista inspirada por Celson Furtado defende o papel estratégico da indústria, por outro lado, uma corrente propõem investimento em educação e produtividade do trabalho.

Essa dicotomia de conceitos fica bem caracterizada na fala do Curador Acadêmico do Seminário, o Professor Alexandre Rands que diz: “FURTADO ESTAVA CERTO AO TRATAR O NORDESTE COMO PROJETO NACIONAL. MAS, O INSTRUMENTO HOJE PRECISA SER OUTRO. SE ANTE ERA PRECISO CONSTRUIR FÁBRICAS, AGORA É URGENTE FORMAR PESSOAS”.

Até digo o seguinte: agora não, há muito tempo deveríamos ter dedicado a formação e qualificação de mão de obra. Desde a concepção, o plano de desenvolvimento ocupou-se com a ocupação física por indústria de manufatura e, portanto, produção em alta escala, cuja mão de obra demandava baixo nível de qualificação e de instrução, e ao longo do tempo, portanto, mais de 6 décadas, não se procurou modificar esta realidade, no sentido de preparar essas pessoas para os desafios que estavam por vir, no tocante a tecnologia e a inovação!

Ouso dizer, este foi e continua sendo grande erro do Brasil como um todo, indiferente, da região, e de todos os países subdesenvolvidos: NÃO INVESTIR NA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL. E não venham dizer que foi por falta de dinheiro, mas, por inversão de prioridades, mesmo porque os valores envolvidos em todas as ações de desenvolvimento regionais são vultosos, magníficos, considerando desde os rees obrigatórios, repartição de tributos, subsídios, programas assistenciais, e os próprios recursos direcionados a educação.

No que tange a educação especificamente, é flagrante a discriminação com a educação profissional e tecnológica, pois, os recursos direcionados a educação superior superam 10 vezes os da educação técnica. Aliás, o Brasil desde muito tempo tem permitido a inserção de elementos ideológicos no ensino básico e superior em detrimento do mérito estudantil, pior, formam pessoas equidistantes da realidade socioeconômica do país e dos estados federados, enquanto que, o foco do ensino tecnológico consiste na formação prática voltadas as habilidades específicas.   O ensino técnico do Brasil representa apenas 11% da taxa de alunos matriculados, o terceiro pior, dos países que compõem a OCDE, que é a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico, uma organização internacional intergovernamental que reúne países com economias desenvolvidas para promover o crescimento econômico, o bem-estar social e a livre concorrência. 

No Brasil se gasta em torno de 3.000 dólares anuais com o ensino profissional, o que é baixo se comparado a média dos países da OCDE. No ensino superior no Brasi, o gasto é de 14.735 dólares anuais sendo que, investe na mesma proporção dos demais países na OCDE, o que demonstra a falta de prioridade com a educação profissional. No ensino básico, o Brasil gasta em torno de 3,6 mil dólares anuais, valor muitíssimo baixo se fizermos o cotejo com o ensino superior.

O resultado dessa falta de prioridade com o ensino básico e profissional importa na perda de competitividade do setor produtivo por falta de mão de obra e por tabela falta de produtividade, mormente, na indústria, no agro e no comércio. Diante dessa realidade, não há como se pensar uma outra solução para mudar a situação socioeconômica da região Nordeste, principalmente, diante da revolução de informação e de comunicação que experimentamos, senão pela qualificação dos profissionais para enfrentar os desafios da produção globalizada.

De outro modo, o mundo está dividido entre os países produtores de alta tecnologia, os quais dependem das cadeias de suprimentos localizadas em outros países, mas, ambas as situações com alto investimento no capital humano para produção. Portanto, não adianta pensar num programa de desenvolvimento para região Nordeste, se não for considerado um massivo investimento em educação tecnológica.

]A globalização é um processo irreversível e o setor produtivo encontra-se envolto nisso tudo, a ponto que se o estado não realizar aquilo que lhe compete, submeterá ao fracasso a sua economia, e, afetar, certa a vida e a dignidade das pessoas, empreendedores ou colaboradores das corporações.
Neste momento no mundo não existem empresas “made in”, porquanto, a integração do processo produtivo pode envolver diversos países para produção de um único produto.

O novo paradigma do comércio, acelerado pela revolução da informação, envolve movimentos transfronteiriço de partes e componentes como chips, microprocessadores e produtos químicos. Esses bens intermediários – bens utilizados para produção de produtos maiores e mais complexos – representam 2/3 do comércio global. Um iPhone pode ser projetado na Califórnia, mas seus diversos componentes convergem da Coreia do Sul, da Holanda e de a Taiwan antes de serem montados na China.

Importa destacar, portanto, que estamos vendo a formação de grupos de países produtores, os quais formam subgrupos de países da cadeia de suprimentos com destaque para os EEUU que formam com o Canadá e México, China com Japão, Coreia e Vietnã, e Alemanha, com Itália e França. Observa-se que esses países altamente produtores de tecnologia, dominam o mundo e as suas posições, em muito importam e repercutem pelo Globo, tal forma que alguns já consideram, o

TECNOFEUDALISMO

Não interessa a adjetivação que se venha dar para este tipo de relação entre nações, o que, efetivamente, precisa ser considerado é a necessidade de investimento em educação, em inovação, e na profissionalização das pessoas.

Não acredito e considero errônea a opção de direcionar recursos de fundos oficiais, subsídios, complemento de renda através de diversos programas assistenciais, incentivos fiscais, para juntos ou separados, gerar a perspectiva de desenvolvimento da Região Nordeste e diminuir a sua desigualdade em relação a outras regiões, mas, através do avanço educacional para melhorar o nível intelectual do trabalhador, a sua elevação meritória, a expansão da capacidade de inovação, é que garantirá a produção nordestina e assegurará condições de competitividade nos três setores da economia local.

  • O conceito de tecnofeudalismo é usado por teóricos para explicar o monopólio dos conglomerados digitais e sua capacidade de controlar as atividades sociais. Para os adeptos do termo (popularizado pelo pensador francês Cedrid Durand), o sistema econômico em torno de big techs está cada vez mais parecido com o que vigorou na Europa na Idade Média.

Por RÔMULO MONTENEGRO
Advogado/Professor Universitário
Ex-Secretário da Agricultura da Paraíba